terça-feira, 26 de julho de 2016

BoJack Horseman (3ª Temporada) | CRÍTICA


Recentemente, a Netflix nos presenteou com a espetacular estreia de Stranger Things, conquistando facilmente seu público que não parou de falar sobre o programa mesmo quase duas semanas após o lançamento de seus episódios. Agora, o serviço de streaming lança a terceira temporada de BoJack Horseman. Infelizmente pouco conhecida no catálogo de produções originais, a série animada de "dramédia" criada por Raphael Bob-Waksberg  volta com o mesmo fôlego que apresentou nas suas antigas temporadas. 

Nos primeiros anos, a série mostrou a vida de BoJack (voz de Will Arnett - Arrested Development), um cavalo que teve seu momento de glória nos anos 90 com sua sitcom de comédia e que passa por inúmeros problemas em sua vida, começando a ficar melancólica e depressivo, com isso ele precisa decidir como lidar com essas situações e passa participar de programas de televisão e a tentar realizar seu sonho de interpretar Secretariat em um filme. Agora, na nova temporada, a história inicia com BoJack dando entrevistas para divulgar seu novo filme, Secretariat, e a sua ambição pelo Oscar de Melhor Ator, enquanto seu melhor amigo Todd (voz de Aaron Paul - Breaking Bad) reencontra uma antiga amiga e começam a investir em um novo negócio.


O cartaz desta temporada, traz uma lista de nomes, comparando BoJack a Tony Soprano (The Sopranos), Don Draper (Mad Men) e Frank Underwood (House of Cards), todos anti-heróis de suas séries, que conseguem fazer com que o telespectador sinta raiva de ações feitas pelas personagens (como as diversas vezes que Don Draper trai a sua mulher), mas que também fazem você sentir pena e a torcer para eles em algum momento (como as vezes que você torce para Walter White conseguir se dar bem com seu negócio ilegal), e BoJack consegue se igualar a eles nesse quesito, o personagem prova ser um escroto diversas vezes (ficando com a amiga de Todd), mas faz você sentir pena em alguns momentos (como sua despedida de um filhote marinho). Outra relação estabelecida entre Tony Soprano e BoJack, é a terapia. Enquanto o mafioso tinha horário marcado com sua terapeuta toda semana, BoJack passa a fazer ligações para conversar com uma mulher que dá conselhos a ele.


O ponto mais forte da série em todas suas temporadas, são os assuntos que tratados, como depressão e alcoolismo. Este ano, a série continua com essa carga em cima de BoJack, trazendo tudo que ele carrega desde o final da segunda temporada. Alguns episódios conseguem abordar assuntos polêmicos atuais, como o feminismo e a discussão do certo e errado do aborto. No sexto episódio (“Tat-Tat, Pum Pum”) é falado sobre o aborto, e em uma cena onde faz uma clara critica a situação atual, onde um apresentador de um programa está discutindo sobre isso, e para isso, ele chama “três homens brancos de terno” (a frase é dita pelo apresentador), para dar a opinião deles sobre o tema, que acabam não concordando com o ato de abortar, e acham “que não é um problema de mulheres”. Outro assunto tratado é a burocracia nos bastidores do marketing e da campanha de divulgação de um filme, onde BoJack é muitas vezes controlado pelos seus agentes.

No quesito drama, a série acerta com a carga dramática que BoJack e as demais personagens carregam, dando espaço até para Mr. Peanutbutter (personagem mais otimista e feliz do seriado) falar um pouco de seu passado e problemas. Na parte da comédia, algumas piadas podem não funcionar, mas são raros os casos, devido a grande parte de momentos cômicos ótimos, como a brilhante cena envolvendo o polêmico final de Sopranos, onde Todd acaba rasgando um rolo que continha a “cena final” do seriado. Em diversos momentos, a animação faz referências e trocadilhos com o nome de séries e atores, como "The Pig Bang Theory" (The Big Bang Theory) e "Jurj Clooners" (George Clooney), sem contar as outras inúmeras referências a filmes, como Mad Max: Estrada da Fúria, referenciado várias vezes em diferentes episódios.


Os últimos três episódios da temporada conseguem formam uma sequência de ótimos momentos. Focando totalmente em BoJack e como ele lida com seus problemas, não conseguindo aceitar o que seus amigos falam sobre ele estar se importando só com ele mesmo, não ligando se suas ações vão ou não magoar os outros, não ligando se ele está levando outras pessoas para o fundo do poço com ele, não ligando que existem pessoas a sua volta que se importam com ele. A cena final da temporada revela que BoJack não fez a única coisa que devia ter feito na sua vida, ser um cavalo. A comparação da cena fica com as pessoas que esquecem de ser “humanas”, que assim como BoJack, passam a se importar com coisas superficiais e que deixa de lado as pessoas importantes que estão sempre por perto, tentando ajudar. Destaque especial para o episódio quatro, "Peixe Fora D’água", onde os diálogos falados são limitadíssimos devido ao fato de BoJack ir na première de Secretariat em uma cidade embaixo d'água, deixando-o com um capacete que permite sua respiração lá embaixo, mas não permite a fala. Durante esse capítulo, BoJack cria uma relação com um filhote de cavalo marinho, e parte em uma jornada para devolvê-lo ao seu pai. O ponto positivo deste episódio é que, em seu roteiro, o criador consegue fazer com que piadas e momentos emocionantes funcionem sem falas, apenas com as expressões das personagens e suas situações.

Com seus doze episódios de 25 minutos em média, BoJack Horseman parece aquelas animações com uma boa comédia-pastelão que não se mantêm alheias aos assuntos atuais da nossa sociedade, assim como Birdman fez em 2014 (pode-se dizer que BoJack é uma versão “seriado” do filme, sendo até referenciado com um plano-sequência nos bastidores de um teatro em sua segunda temporada). Repleta de momentos cômicos e emocionantes, BoJack Horseman é um programa bom para ver aos poucos e pegar a mensagem que cada episódio passa, mesmo que a personagem principal seja um cavalo antropomorfizado, é repleta de momentos que fazem pensar na vida e que sensibilizam o telespectador.





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