sábado, 18 de junho de 2016

Como Eu Era Antes de Você | CRÍTICA


Exigências de sobra impostas por padrões de beleza ou fatores socioeconômicos, há quem acredite que o amor possa ser construído a partir das diferenças. Desse mínimo de afinidade, a relação vira um exercício misto de aceitação e compartilhamento de ideias e gostos que se tornam cada vez mais interessantes e efusivos em meio a carinhos em expansão, fazendo com que uma pessoa seja essencial para a outra quando menos se espera. Baseado no livro homônimo de Jojo Moyes, que também assina o roteiro, Como Eu Era Antes de Você procura refletir sobre a alteridade em tempos de egocentrismo enquanto a trilha sonora cumpre sua parte em deixar o filme mais apaixonante.


Will Traynor (Sam Claflin) costumava ser um jovem executivo com uma vida independente regrada ao luxo de se praticar muitos esportes radicais ou qualquer hábito que um "homem branco" abastado possa reivindicar para si, até um acidente lhe deixar tetraplégico e (novamente) dependente dos seus pais, que o instalam com todo o conforto necessário no que era a estrebaria da mansão. Do outro lado da nobreza nesta "pitoresca cidade de campo inglesa", Louisa Clark (Emilia Clarke) tenta a tal da estabilidade financeira pulando de emprego e emprego e, por mais que ela se mostre simpática e dedicada até demais com a clientela, a moça de 26 anos não parece se encaixar nas funções que exerce e continua a habitar o teto dos pais, juntamente com seu avô, irmã e sobrinho. Persistente, Lou acata a tentadora oferta de cuidar de um certo tetraplégico e, quando chega à silenciosa mansão da família Traynor, tem de enfrentar o comportamento auto-destrutivo de alguém que não suporta ficar confinado em um espaço fechado e preso numa cadeira motorizada.



Dirigido pela estreante Thea Sharrock, o longa segue nos mesmos moldes do carismático francês Intocáveis (2011), onde o aristocrata semi-imobilizado se dispõe a educar culturalmente seu leigo assistente apresentando músicas, frequentam galerias de arte, fazem viagens e outros prazeres que o dinheiro pode oferecer. Aqui não é muito diferente: Lou aprende a ver filmes com legendas e assiste a um concerto de música erudita; tudo para tentar amaciar o desconforto diário de Will que pouco acredita em reviravoltas. Com o diferencial de ter uma aura romântica, acaba que a diretora e a autora guiam o filme distante dos clichês melosos de produções semelhantes, calcando até com um contexto de crise econômica. Antes mesmo de qualquer possibilidade de beijo, há de se estabelecer uma boa (e longa) conversa, mesmo que ao som da badalada "Photograph" de Ed Sheeran.

Carismática e divertida, refletindo uma geração de jovens inseridos no exaustivo conceito de "múltiplas competências", Emilia Clarke cumpre bem na parte de portar uma personagem ingênua, mas de bom coração, que dificilmente se deixa abater – uma prova é a seleção de figurinos ousados e coloridos que veste apesar das críticas e olhares irônicos do rapaz. Todavia, falta mesmo a atriz um norte para que demonstre uma performance envolvente, passional como se pede, linhas estas que são rompidas com a tamanha quantidade de closes no rosto da atriz, destacando mais a atuação das sobrancelhas do que o restante do trabalho corporal. O mesmo pode se dizer de Claflin, que parece entender que a limitação do personagem se resume a se portar com rigidez e uma antipatia que vai e volta entre um sorriso e outro. Do resto do elenco, já se espera que Charles Dance aparecerá automaticamente austero, mas é Jenna Coleman (Dr. Who) que surpreende por sua desenvoltura no papel da irmã de Lou.



Da vontade compulsiva do personagem de Matthew Lewis em superar seus limites físicos, pressupondo que a namorada (nada atlética) irá acompanhá-lo para sempre, ou da decisão inviolável de Will Traynor (que, por sorte, não envolve religião!) e da abnegação de Lou, parecendo "ciente" do tipo de vida que iria levar, Como Eu Era Antes de Você (Me Before You) possui uma vertente interessante que, sem dúvidas, merecia melhor desenvolvimento por parte de suas realizadoras no que tange à liberdade de escolhas numa relação, muitas vezes a ponto de se tornar um impasse. O ato de amar pode envolver sacrifícios irreversíveis, mas visando o bem de quem mais gosta.




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