domingo, 31 de janeiro de 2016

Marcas da Guerra e a mal elaborada jornada para Star Wars: O Despertar da Força


Vendido como "o livro que você precisa ler para a começar a jornada para Star Wars: O Despertar da Força", Star Wars: Marcas da Guerra é um dos primeiros títulos literários que integram o novo cânone da saga criada por George Lucas. Com um longo período de três décadas a descrever até os acontecimentos que circundam Rey e as demais personagens do Episódio VII, o livro escrito por Chuck Wendig introduz a ascensão da Nova República em paralelo com a queda do Império Galáctico, ainda implacável, porém tão problemático como sua própria narrativa.


O "antigo" Universo Expandido de Star Wars nos contava que as forças imperiais não foram tão fáceis de extinguir após a queda do Imperador Palpatine e Darth Vader, mantendo um legado ameaçador de almirantes tão irredutíveis quanto os caídos Lordes Sith. Seria necessário, então, mais esforços de Luke, Leia, Han e seus demais companheiros da Aliança Rebelde na luta contra o Lado Sombrio. Relegando a aclamada "Trilogia Thrawn" de Timothy Zahn e tantos outros títulos ao selo Legends (fora do cânone), eis que a Lucasfilm coloca o ponto de partida de Marcas da Guerra no exato momento em que a população do planeta Coruscant se insurge contra o derrotado Império, mas é no planeta Akiva que a ação se concentra, alguns meses depois da explosão da segunda Estrela da Morte. 

O conhecido piloto Wedge Antilles e a também piloto Norra Wexley lutaram pela Aliança Rebelde em Endor e ambos circundam o planeta Akiva por razões específicas. Incumbido pelo Almirante Ackbar, que também possui passagens no livro especialmente para pressupor novas armadilhas, Antilles está à procura de sinais de atividade imperial o que, consequentemente, acaba encontrando até ficar frente a frente com a almirante Rae Sloane, uma das raras militares que ainda acredita nos valores do Império e fará de tudo para impedir o firmamento da Nova República. Enquanto isso, Wexley também não mede esforços para buscar seu filho Temmin na capital do planeta, mas ela não tinha conhecimento de que o adolescente é um chamariz para problemas, embora bastante habilidoso, e que no mais tardar de sua passagem em Akiva ela se juntaria a uma caçadora de recompensas Zabrak e a um ex-imperial numa missão para deter a tirania de Sloane e demais moffs e simpatizantes do Império. Se você acompanha o seriado Star Wars: Rebels, as semelhanças de ações e personagens não vão parecer uma mera coincidência.



Dividida em quatro partes, essa aventura sem cavaleiros Jedi possui um estilo de narrativa fácil que é focado diretamente na ação, impulsionada por seus parágrafos e capítulos breves e com inserções dos pontos de vista de seus personagens principais a cada final de incidente, o que estimula ainda mais a urgência dos acontecimentos cada vez mais ligados entre si, expandindo em sua proporção. Se essa sensação de agilidade foi benéfica até agora, principalmente em seus dois primeiros atos bem engatados graças à ansiedade de querer saber o que vai acontecer com aqueles personagens até que carismáticos, não tarda para que a escrita de Wendig se mostre bastante amadora, pra não dizer preguiçosa. São várias as vezes em que o comportamento dúbio de personagens como Temmin e Sinjir são descartados sem um melhor aprofundamento ou motivações mais concisas. Aliás, o quarteto liderado por Norra se forma de forma muito brusca, a confiança adquirida com facilidade é posta em dúvida repetidamente em capítulos adiante, pausadas pelos interlúdios em vários planetas que, bem no fim, não agregam quase nada à narrativa, exceto aquele que se passa no hiperespaço com dois personagens bastante adorados.

O fator mais agravante em Marcas da Guerra, entretanto, é o desinteresse do seu autor quanto a descrever os ambientes, criaturas e personagens distintos, superestimando o leitor ao presumir que este tenha conhecimento prévio da aparência de um Kubaz ou uma Devaroniana, por exemplo. Apresentando Akiva apenas como um planeta quente, liderado por um sátrapa e que possuía uma fábrica de dróides Separatistas em seu subsolo, a carência de detalhes faz com que recorramos a pesquisas externas em fansites, um processo cansativo que logo vai privando o leitor de imaginar os seres e ecossistemas por conta própria. Considerando que se trata de um livro pertencente ao universo Star Wars, onde o aspecto visual sempre falou mais alto, a falta de informações textuais chegam a decepcionar, atingindo seu ápice na apressada quarta parte.

Apresentando uma quantidade maior de personagens mulheres de pulsos firmes, a ênfase na diversidade sexual de alguns personagens parece ser outra marca forte da Lucasfilm em sua nova fase, tratando com naturalidade e até mesmo graça, vide a revelação tímida e inesperada de um dos protagonistas. Unindo as duas primeiras trilogias, as inclusões de elementos das Guerras Clônicas também é gratificante para aqueles que apreciam os Episódios I a III e a série The Clone Wars, o que facilita também o processo imaginativo justamente ao aproveitar algumas raças humanoides, clãs, naves e até mesmo um dróide de batalha daquela época.

Enquanto Marcas da Guerra, no fim, pode ser um bom passatempo literário, até porque traz alguns pares de informações interessantes sobre o passado e o futuro da saga em suas entrelinhas, o livro encomendado pela Disney (e escrito em quarenta e cinco dias, segundo boatos) decepciona por não se sustentar em seu primeiro volume, jogando suas resoluções para os próximos títulos da "Trilogia Aftermath". Paira a dúvida se haverá ligações mais com O Despertar da Força, porque aqui as referências são praticamente irrelevantes.




Título: Star Wars: Marcas da Guerra
Título original: Star Wars: Aftermath
Autor: Chuck Wendig
Páginas: 403
Editora: Aleph

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