segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Creed: Nascido Para Lutar | CRÍTICA


A longa saga de Rocky Balboa (Sylvester Stallone) nos mostrou que, acima de ser um campeão, o que importa são as ligações com a família ou com aqueles que se importam conosco, e é daí que tiramos nossas maiores forças na hora da luta. A nova fase desse universo-Rocky, por assim dizer, chega completamente renovada, trazendo o melhor do que foi visto em seis filmes agora com Creed: Nascido Para Lutar, certamente um dos mais empolgantes e emocionantes filmes da série.

Adonis Johnson (Michael B. Jordan) teve uma infância sofrida, desconhecendo seu pai e sua mãe veio a falecer cedo, deixando o menino órfão e fazendo com que passasse por várias famílias e orfanatos, até ser encontrado pela viúva de Apollo Creed, Mary Anne (Phylicia Rashad). Com o passar dos anos e graças à fortuna/renome do pai, Adonis desfrutou da boa vida na Califórnia e até um bom emprego tinha, mas o sangue de lutador do pai corria mais forte em suas veias, levando-o a participar de lutas clandestinas sempre que possível, a contragosto da sua família. Inspirado pelos vídeos das lutas do pai versus Rocky Balboa, dois inimigos que vieram a se tornar grandes amigos, Johnson abdica de sua carreira profissional estável (e saudável), e assim cruza o país a fim de treinar na cidade de um antigo campeão.

Assim como Star Wars: O Despertar da Força, Creed rebusca o que deu certo nos filmes anteriores, sendo fiel em todos os detalhes possíveis, e lá estão a velha academia do Mick, o restaurante de Rocky, as escadarias do Philadelphia Art Museum e, claro, todas as demais locações que tornaram a cidade um destino turístico para todo cinéfilo nestes quarenta anos, sem contar o hábito de dar ganchos para continuações. Mas o melhor de tudo é que um dos primeiros acertos do diretor e co-roteirista Ryan Coogler é tratar todo esse universo de forma mítica, sem parecer meras homenagens gratuitas, e não faltam as mensagens motivacionais que tanto marcaram a série, agora sem a necessidade de ser passada de mentor a aprendiz.

A vida de erros e acertos de seu personagem, além do peso da idade, fornece a Stallone a oportunidade de tornar Rocky mais do que aquele sujeito a la "Mary Poppins" de Rocky Balboa, que só pensa em ajudar as pessoas a troco de nada. Por mais confortável que esteja gerenciando o Adrian's e morando numa casa modesta, o ex-pugilista sofre com a perda de seus entes queridos, ainda que mantenha o bom humor, sendo reerguido desta vez por Adonis e até mesmo treina junto com o jovem, apesar de ter diminuído e muito o seu ritmo e força. Entregando cenas divertidas e outras dignas de "escorrer o suor da testa", a dupla mostra que tem muito a aprender um com o outro, independente da idade, etnia ou ideologias.



Quando Garrett Brown criou a Steadicam em 1975, inaugurando um novo estilo de filmagem que foi contemplado pela primeira vez no ano seguinte com Rocky - Um Lutador, Coogler agora faz um trabalho fenomenal em parceria com a diretora de fotografia Maryse Alberti, utilizando o recurso além da praticidade de se filmar a clássica cena da escadaria ou apenas fornecer estabilidade para os planos de câmera na mão. Das cores quentes de Los Angeles para o clima frio da Filadélfia, essas atmosferas contrastantes não intimidam o protagonista, que cada vez mais se embrenha no submundo para ser aceito e, quando Johnson vai adquirindo o respeito dos jovens do bairro "barra pesada", o plano da corrida com as motos não poderia ser menos emocionante, ainda mais que a trilha de Ludwig Göransson deixa tudo mais épico, honrando os clássicos temas de Bill Conti. Não o bastante, são os planos-sequências (feitos em Steadicam) que nos levam para dentro do ringue e cada impacto de jabs e ganchos ficam mais realistas, uma perspectiva praticamente inédita dentro dos filmes, acrescentando uma imersão ininterrupta e magistral.

Sendo um diretor bastante jovem, Ryan Coogler surpreende por saber apresentar o boxe a uma nova geração que, assim como visto em alguns pedaços do filme, frequenta as academias para praticar a arte marcial como um exercício físico e/ou que acompanha as célebres de luta de MMA ao vivo ou na TV. Hoje, os atletas são mais definidos e estão cada vez mais ostentadores, seja pela forma física "monstro" ou pela fortuna, mas o importante é que o jovem Creed já pode ser considerado um campeão digno do cânone de grandes lutadores de boxe do cinema.

Ficamos, é claro, à espera da próxima revanche.




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