quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A Colina Escarlate | CRÍTICA


A virada do Século XX, o cenário perfeito para a modernidade. Não por menos, a jovem Edith Cushing (Mia Wasikowska) quer se lançar como escritora de livros com histórias que procuram fugir da pieguice dos dramas românticos da época, ainda que tenha de se sujeitar ao machismo vigente e datilografar o texto para disfarçar sua caligrafia curvilínea obviamente feminina. Quando o galante Thomas Sharpe (Tom Hiddleston) chega à sua cidade procurando por um investidor para extrair argila vermelha de sua propriedade no interior da Inglaterra, tudo parece mudar para Edith. O mistério e a sedução daquele baronete guiam a moça para a sinistra atmosfera de A Colina Escarlate (Crimson Peak).

Há algo de estranho no casal de irmãos Sharpe, Thomas e Lucille (Jessica Chastain). Além do comportamento soturno, o pai de Edith não tarda em desconfiar da ações de ambos e solicita uma investigação, enquanto que o estrangeiro fascina ainda mais a moça, tirando do páreo o melhor amigo dela, o oftamologista e bom-moço Alan McMichael (Charlie Hunnam), que tem em sua estante um exemplar de um livro de Sir Arthur Conan Doyle. Logo, mais um que se instigará a descobrir as confabulações dos Sharpe, cada vez mais próximas de se concretizarem. Em sua ingenuidade, mas constantemente assombrada pelo fantasma de sua mãe, Edith deixa para trás sua vida na América para viver na fria mansão de seu agora noivo, mas lá também encontrará fantasmas e um cenário de horror do qual ela vai se arrepender de ter entrado.


Dirigido por Guillermo Del Toro e co-escrito em parceria com Matthew Robbins, A Colina Escarlate se preocupa mais em vangloriar a estética gótica como pouco visto ultimamente no cinema, ainda mais quando cineastas por aí preferem investir num terror contemporâneo. Desde os figurinos elegantes assinados por Kate Hawley, com seus cortes e cores estratégicas, à deteriorada mansão de Allerdale Hall, a produção tem um cuidado ímpar com a retratação da época e esse zelo percorre o filme todo, com a fotografia de Dan Laustsen fazendo questão de mostrar isso. Percorrendo os corredores escuros da mansão, mais percebemos os mínimos detalhes de cada cômodo do imóvel, até constrastar com o porão avermelhado repleto de segredos. Se é nesta parte que a fotografia recebe uma paleta de cores mais variada, é ainda na primeira parte do filme que as imagens possuem uma riqueza interessante. Há uma passagem, ainda neste primeiro ato, quando Thomas e Lucille estão em um parque e fazem mais uma de suas confabulações. Enquanto os irmãos conversam em primeiro plano, próximos a uma árvore, é curioso notar como o fundo aparece com uma luz bastante estourada e até pulsante, remetendo a uma projeção de filme antigo. Cada cena é mergulhada numa escala de sépia que se intensifica com o desenrolar da narrativa, refletindo diretamente na vida ao redor de Edith e que vai se deteriorando pouco a pouco até ela aceitar cair nos braços de Thomas.


A Colina Escarlate, infelizmente, peca em seu roteiro melodramático pra lá de previsível e, o que é pior, dificilmente privilegia seus personagens principais. Existe uma compaixão pelo personagem de Tom Hiddleston alcançada graças ao carisma habitual do ator e a passividade súbita da Edith de Wasikowska é até compensada pelo seu ímpeto de coragem no terceiro ato, mas é Jessica Chastain a maior prejudicada nesta tragédia. Ficando com o papel de irmã ciumenta, a atriz parece direcionada a fazer caras duras a todo instante ao mesmo tempo em que procura esbanjar uma sensualidade muito que da velada, culminando em ações típicas de uma vilã de novela qualquer. Até o pai de Edith tem falas e desenvolvimento muito mais elaborados.

Se há algum elemento pouco comentado aqui, é o terror propriamente dito. Abraçando a definição "uma história sobre fantasmas" dita por Edith ainda no início do filme, as aparições sobrenaturais assustam mais pelas aparições introdutórias do que por suas ações e, por mais que seu design (de perto, pavorosamente digital) seja um chamariz para o susto, logo se torna compreensível a razão de estarem assombrando a protagonista. No fim, fantasmas são lembranças do passado que sempre nos farão ter histórias para contar.



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